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     Conceito   de   Tempo

Helena Simões Costa © Fotografia 2015

Helena Simões da Costa © Photography 2015

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Breve Reflexão acerca do Conceito de Tempo

 

 

Então, o que é o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei. Mas se quero explicá-lo a quem me pede, não sei.” Santo Agostinho

 

O Conceito de tempo tem sido, desde sempre, objecto de estudo e de representação, nos domínios artístico, filosófico, científico e teológico. A captação do tempo assume várias formas, tantas quantas a mentes, as obras e as ferramentas por aquelas criadas, na tentativa de compreenderem aquilo que não pode ser agarrado, mas apenas sentido.

 

Quando falamos do tempo temos que falar de diferentes sentidos do conceito de tempo, o que não impede a criação de relações de sentido entre esses mesmos diferentes tipos de tempo. No domínio do tempo meteorológico em que os vários fenómenos atmosféricos são estudados e contemplados, podemos ir buscar a noção de atmosfera e transpô-la para o tempo existencial: a modalidade de cada ser humano existir diz respeito a encontrar-se mergulhado em diferentes atmosferas disposicionais ou climas existenciais nas diferentes fases da sua vida. A própria existência é toda ela uma grande atmosfera disposicional. Aqui fala-se de tempo existencial, aquela atmosfera que nos envolve e nos faz saltar de momento em momento sujeitos ao que os dias trazem e inventando o que não trazem.

 

As Ondas” de Virginia Woolf é, sem dúvida, a obra literária que melhor descreve e associa a atmosfera meteorológica e o tempo cronológico à atmosfera e tempo existenciais: nas passagens breves e intermitentes ao longo da obra, a autora descreve, numa prosa densamente poética e filosófica, a atmosfera que é a existência humana, através do Sol, do céu, das nuvens, do vento, das ondas, da areia, dos relâmpagos, das sombras, da luz e, por fim, da escuridão, onde tenta mostrar a passagem do tempo (da vida) como se a vida fosse um dia: desde o momento em que o Sol se mostra até que o Sol desaparece e deixa tudo mergulhado na escuridão; tal como as ondas que também têm uma duração, nascem, crescem, para depois se quebrarem na areia já cobertas de negrume. Estas imagens poético-filosóficas criadas por Virginia Woolf podem ser um forte motivo de inspiração e criação tanto na fotografia como na pintura, como na poesia e na filosofia da vida ou na filosofia do tempo.

 

No conceito de tempo enquanto existencial temos que falar em tempo cronológico e num tempo de agarrar a oportunidade que secretamente nos é disponibilizada sabe-se lá por que força maior.

 

É o deus ‘Chronos‘ que na mitologia grega (do grego Χρόνος, que significa tempo) era a personificação do tempo e que dá nome ao tempo cronológico. Os gregos antigos compreendiam o tempo através de três conceitos: chronos, kairos e Aeon. Por Chronos ou tempo cronológico entende-se a sequência temporal, ou a passagem das horas e a sequência dos dias e das noites que pode ser medida e associada ao movimento linear da vida terrena onde as coisas estão sujeitas às horas e têm um princípio e um fim; ‘este tempo’ é o tempo que nos foge, por isso também o chamamos de ‘tempus fugit’.

 

O tempo kairológico ou kairos fala-nos de um tempo especial, o de agarrar determinada possibilidade que podemos ver, ou não. Este é o tempo da oportunidade e refere-se a um momento que é indeterminado no tempo, em que algo especial pode acontecer dependendo do grau de captação e de determinação de quem o consegue captar. Este momento disponibilizado pelo kairos é de tempo rápido sendo por isso um momento a ser visto e agarrado num abrir e fechar de olhos para não deixar a oportunidade do momento presente escapar.

 

Por último, temos o conceito de tempo compreendido enquanto Aeon, sendo este visto como um tempo sem medida precisa, sagrado, eterno e, por isso, um tempo circular (associado ao movimento circular dos astros). Este é o tempo do eterno retorno onde as horas não acontecem de forma cronológica. Este tempo é de criatividade, por isso sem medida, sem contagem e associado ao divino (fonte de criação). Na teologia moderna Aeon corresponde ao tempo de Deus.

 

No tempo cronológico falamos do ‘tempus fugit’, o tempo que passa e que nos faz ter a percepção de que existe uma trilogia temporal ou um tempo dividido em três tempos: o passado, o presente e o futuro. A existência de cada um de nós passa-se num modo de fuga e de dominação do tempo: tentativa de fugir ao tempo enquanto ele corre mais rápido à nossa frente e tentativa de agarrar o tempo nas suas mais variadas expressões. Seja para voltar ao passado, revivendo-o, seja a ansiar o futuro, tendo esperança e expectativas, seja a tentar agarrar o momento presente que nos foge das mãos, ao mesmo tempo que nos arrasta com ele sem dó nem piedade.

 

Para os gregos antigos, como o passado diz respeito àquilo que já passou, aquilo que já foi visto, este seria um tempo que está à nossa frente, à frente dos nossos olhos e não o que está atrás de nós; o futuro, aquilo que ainda não aconteceu e que, por consequência ainda não vimos, é o que está atrás de nós como uma espécie de entidade invisível que nos empurra e que nos “provoca”. O porvir é o que ainda está por ver. Esta lógica de compreensão do tempo não invalida a nossa compreensão habitual acerca do mesmo, já que, se por um lado, somos puxados pelo passado à nossa frente, porque somos primordialmente memória, por outro lado, é por o futuro nos empurrar e, ao mesmo tempo nos “sacudir” e “provocar”, que faz sentido continuar a navegar na existência. Se há futuro, haverá vida.

 

A possibilidade de fuga mais deslumbrante ao tempo é a Arte e o Amor. Aquele tempo em que nos encontramos como se estivéssemos fora do mesmo, porque o tempo pára ou porque o fazemos parar e estancamos um momento que fica para sempre eterno. Uma espécie de fusão entre tempo kairológico e tempo divino, como uma força maior que nos move e nos puxa para fora do tempo e nos faz existir numa outra atmosfera existencial, que não deixando de ser temporal nos faz dar um salto no tempo e cristalizá-lo por breves mas oportunos e eternos momentos.

 

A existência é sempre um tempo (o facto de ser um lugar/espaço é algo acessório) e este tempo pode ser especial independentemente dos calendários, agendas e puxões do destino a que estamos sujeitos. Muitos falavam e falam desta atmosfera existencial ou desta forma de estar na existência e Ortega y Gasset relembra-nos do que se trata: “Toda a arte implica a aceitação de um freio, de um destino, e como Nietzsche dizia: «O artista é o homem que dança acorrentado». A fatalidade que é o presente não é uma desgraça, mas uma delícia, é a delícia que sente o cinzel ao encontrar a resistência do mármore. (…) A beleza da vida está precisamente não em que o destino nos seja favorável ou adverso – já que sempre é destino – , mas na gentileza com que o enfrentemos e talhemos da sua matéria fatal um figura nobre.”

 

Como diz Virginia Woolf (em "The Waves"), "The moment was all; the moment was enough."

 

 

Helena   Simões   da   Costa  ©

 

 

Helena Simões Costa © Fotografia 2015

Helena Simões da Costa © Photography 2015

Então, o que é o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei. Mas se quero explicá-lo a quem me pede, não sei.”

 

Santo Agostinho, in "Confissões"

 

“O tempo não existe. É apenas uma convenção.”

“O tempo é a substância de que sou feito.”

 

Jorge Luis Borges

 

"O Sol deixara de estar no meio do céu. (…) Era a vez de um cantinho de nuvem se incendiar, imediatamente transformando-se numa ilha incandescente (…) Aos poucos, todas as nuvens se deixavam apanhar pela luz (...)"

 

Virginia Woolf, in "As Ondas"

"The moment was all; the moment was enough."  Virginia Woolf, in "The Waves"

 

Helena Simões da Costa © Fotografia 2015

Helena Simões da Costa © Photography 2015

“De um lado a matéria, do outro o espírito. De um lado a consciência, debate, luta, do outro a impassibilidade, a fatalidade inexorável. Nenhum grito a perturba. De um lado a vida gasta num segundo, do outro a sucessão ininterrupta dos séculos, indiferente e eterna. Como acaso é atroz, a não ser que outra coisa nos espere.” Raul Brandão, in "Húmus"

Helena Simões da Costa © Fotografia 2015

Helena Simões da Costa © Photography 2015

"O tempo não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não representam nada. Ser artista não significa contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa não vir. O verão há-de vir. Mas só vem para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem na frente a eternidade." Rainer Maria Rilke, in "Cartas a um jovem poeta"

 

Helena Simões da Costa © Fotografia 2015

Helena Simões Costa © Photography 2015  (Lisboa)

“Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem.”  Marcel Proust

As Horas 2, Photo credits Helena Simões Costa © 2015

Helena Simões Costa © Photography 2015 (Lisboa)

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